Líderes dizem que recondução do procurador-geral deverá ser aprovada no Senado, apesar de resistências
POR JAILTON DE CARVALHO, MARIA LIMA E CATARINA ALENCASTRO
BRASÍLIA – Vencedor das eleições internas com uma expressiva margem sobre os demais concorrentes, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, será indicado pela presidente Dilma Rousseff para comandar o Ministério Público Federal nos próximos dois anos. Antes da nomeação, no entanto, Janot terá que passar por uma nova sabatina no Senado. Líderes políticos ouvidos pelo GLOBO entendem que o procurador-geral será duramente questionado mas, no momento, a tendência é de ser aprovado.
Senadores estariam desistindo da ideia de barrar a indicação de Janot para não ficarem com a pecha de que são contra a Operação Lava-Jato, investigação sobre envolvimento de políticos, lobistas, doleiros e empresários com a corrupção na Petrobras e em empresas do setor elétrico. Os senadores consideram também que a larga vantagem de Janot na disputa sobre os outros candidatos reforçou sua posição no Senado e no comando da Lava-Jato.
— A escolha é da presidente Dilma e o plenário é soberano. As sabatinas no Senado mudaram, estão ficando lotadas, e deve ter muito questionamento. Mas acredito que o plenário irá aprovar. O procurador Janot é um homem equilibrado, e é equilíbrio que se exige de quem ocupa esse cargo — declarou o líder do PMDB, Eunício Oliveira (CE).
O líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS) prevê que haverá muita polêmica, mas a recondução acabará sendo aprovada. Para o líder do PT, Humberto Costa (PE), a bancada do partido deverá confirmar a indicação de Dilma. Costa é um dos 13 senadores que respondem a um dos inquéritos da Lava-Jato, abertos no Supremo Tribunal Federal (STF) no início deste ano, a pedido de Janot.
— A presidente vai mandar a indicação e nós vamos aprovar, com certeza — declarou Costa.
A recondução de Janot tem também o apoio dos líderes da oposição. Segundo o líder do PSDB, senador Cássio Cunha Lima (PB), a decisão era votar a favor do nome que vencesse a disputa na lista tríplice. O senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) foi ainda mais explícito no apoio à recondução do procurador-geral.
— Janot merece nosso reconhecimento e vamos dar continuidade ao seu trabalho competente no comando da PGR. É preciso manter essa política de assepsia para resgatar o prestígio da classe política e empresarial do país e fazer com que a sociedade volte a ter esperança. Pelo que tenho conversado no plenário, ele terá uma ampla maioria dos votos — disse Caiado.
MAIS DE 80% DOS VOTOS
Na eleição desta quarta-feira, Janot obteve obteve 799 votos. O número corresponde a 85,18% dos 938 procuradores da ativa e aposentados que participaram do pleito; e equivale também quase ao dobro de votos do segundo colocado, o subprocurador Mario Bonságlia, que recebeu 462 votos. Em terceiro lugar ficou a subprocuradora Raquel Dodge, com 402 votos. O último colocado foi o subprocurador Carlos Frederico, com 212 votos. Frederico fez campanha baseada em críticas a Janot e à condução da Lava-Jato. A votação mostrou ainda que depois de dois anos à frente da PGR, Janot ampliou sua base de apoio interna. Nas eleições passadas, ele recebeu 551 votos, número um pouco superior a segunda colocada, Ela Wiecko, que recebeu 457.
A lista dos nomes mais votados será entregue a Dilma hoje, às 10h, ao Palácio do Planalto. Um ministro próximo à presidente afirmou ao GLOBO minutos após a eleição que Dilma irá indicá-lo para mais um mandato à frente da procuradoria-geral. A presidente deve fazer a indicação hoje mesmo ou amanhã.
No Planalto, auxiliares próximos à presidente afirmam que o governo não acredita que o Senado vetará a recondução do nome de Janot.
— O Senado não vai se indispor com o Ministério Público inteiro. Existe uma investigação em andamento. É muito melhor para o Senado fazer um gesto conciliatório a Janot, com quem pode manter um diálogo, do que comprar uma guerra com o MP. O Janot, o Senado já conhece — argumenta uma fonte palaciana.
No entanto, caso ocorra o improvável e o Senado reprove o nome de Janot, Dilma deve então indicar o procurador Mário Bonságlia, que ficou em segundo lugar na votação dos procuradores. A eleição de Janot foi considerada acachapante até para os colegas que fizeram campanha para seus adversários.
A campanha do voto único em Janot e não em uma lista tríplice foi lançada em grupos de discussão na intranet do Ministério Público nos últimos dias, conforme revelou o GLOBO nesta quarta-feira. A ideia era mostrar que a categoria apoiava amplamente o procurador-geral e não aceitaria o eventual veto dele, especialmente por parlamentares investigados por corrupção. A Associação Nacional de Procuradores da República (ANPR), responsável pela eleição, não informou, entretanto, o número de eleitores que votaram unicamente em Janot.
Fonte: O Globo