Jaques Wagner responde a críticas do Financial Times; Washington Post publicou editorial sobre ‘escândalo de petróleo’ que sacode a democracia brasileira
POR JULIANA CASTRO
BRASÍLIA e RIO – O ministro da Defesa, Jaques Wagner, rebateu nesta quinta-feira o editorial do jornal britânico “Financial Times” que, em uma análise da situação política e econômica do Brasil, fez duras críticas ao governo da presidente Dilma Rousseff e afirmou que o país “tem sido comparado com um filme de terror sem fim”.
– Esse jornal nunca olhou para o Brasil com bons olhos. A adjetivação deles eu prefiro que eles guardem com eles. Nós estamos num filme de superação e, como todo filme de superação, é um filme de dificuldade – afirmou o ministro, citando que houve um período de bonança com empresas crescendo e 40 milhões de pessoas entrando na classe média.
– A linha condutora de uma nação não é horizontal, ela tem altos de baixos. Já tivemos momentos melhores, agora estamos num momento de dificuldade. Vamos superar como superamos e vamos chegar lá. Quem sabe o Financial resolve dizer que foi um conto de fadas – completou o ministro, após visitar no Rio o navio de pesquisa hidroceanográfico.
A comparação do “FT” também havia sido feita na semana passada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que ao fazer um balanço do primeiro semestre de 2015 afirmou que o país vivia na “escuridão”. Para o diário, a “incompetência, arrogância e corrupção quebraram a magia” do país.
Com o título “Recessão e corrupção: a podridão crescente no Brasil”, o jornal cita as ações da Operação Lava-Jato e atribui à crise enfrentada pela presidente aos escândalos de corrupção envolvendo a Petrobras. A investigação da Procuradoria do Distrito Federal sobre a suspeita de tráfico de influência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que teria ajudado a construtora Odebrecht a conseguir contratos no exterior, também é abordada no texto.
Sobre as medidas do ajuste fiscal, a publicação desta quarta-feira afirma que elas “demoliram os índices de aprovação de Rousseff para os níveis mais baixos da história” e que “isso enfraqueceu ainda mais seu controle sobre os parceiros da coalizão”. O jornal afirma que, embora poucos acreditem que Dilma seja corrupta, as acusações envolvendo o financiamento da campanha da petista em 2014 e as pedaladas fiscais podem ser “suficientes para o impeachment”.
O rompimento do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) com o governo foi visto pelo “Financial Times” como “um grande aviso” de que a presidente pode perder o apoio de outros aliados, o que complicaria ainda mais a sua situação política.
“Até agora, os políticos em Brasília têm preferido que Dilma permaneça no poder e assuma os problemas do país. Mas esse cálculo pode mudar para que tentem salvar suas peles”, diz o jornal.
A publicação pondera, no entanto, que a prisão de Marcelo Odebrecht “demonstra a força das instituições democráticas do Brasil”. Por fim, a análise afirma que “Dilma enfrentará três anos solitários como presidente” e que “pode ser que tempos mais difíceis estejam adiante do Brasil”.
O jornal “The Washington Post” também publicou nesta quinta-feira um editorial em que fala do momento político brasileiro. Em “Um escândalo de petróleo está sacudindo a democracia brasileira”, o veículo chama a Operação Lava-Jato de “drama denso” e que causa “explosivas reações” quanto mais alto chega na hierarquia política.
O “Post” discorre ainda sobre o rompimento de Eduardo Cunha com o governo e questiona o que pode vir a fazer o presidente do Senado, Renan Calheiros, caso caia no centro das denúncias. “Dilma Rousseff, que até agora segue intocada, mas que foi do conselho da Petrobras e ministra de Minas e Energia, vai sobreviver?”.
O jornal cita a baixa popularidade da petista, os protestos convocados pela oposição e a economia “afundando” como uma situação que “evoca ecos assustadores do passado brasileiro”. “A democracia brasileira está vacilando, mas o tremor vai ortalece-la”, escreveu o jornal norte-americano.
Fonte: O Globo