No esforço para mudar esses números, a Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu que a data de 10 de Setembro é o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio. Há quatro anos a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), promove a campanha nacional Setembro Amarelo.
Em entrevista para a Agência Brasil, o presidente eleito da Associação Psiquiátrica da América Latina (Apal) e superintendente técnico da ABP, Antônio Geraldo da Silva, destacou a importância da campanha para prevenção e conscientização.
“Esses números são altíssimos, mas nós sabemos que são falhos. Mesmo assim, são assustadores.”
Crianças e jovens
Pelos dados da OMS, essa é a terceira causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos, e também a sétima causa de morte de crianças entre 10 e 14 anos de idade. O caminho, segundo Silva, é adotar medidas preventivas de ajuda e auxílio.
“É uma maneira de a gente salvar vidas porque 90% dos suicídios poderiam ser evitados se as pessoas tivessem acesso a tratamento e pudessem tratar a doença que leva ao suicídio”, afirmou o presidente da Apal.
Segundo o psiquiatra, em geral, a maior parte das pessoas que tenta colocar fim à vida sofre de algum tipo de transtorno mental.
“Os estudos mostram que 100% de quem se suicida têm uma doença mental. Os trabalhos mostram isso. Nem 100% de quem pensa em suicídio têm doença mental, mas 100% de quem suicida têm transtorno mental”, afirmou.
Drogas
O psiquiatra Jorge Jaber, membro fundador e associado da International Society of Addiction Medicine, especialista no tratamento de dependentes químicos, ressaltou que o uso de álcool e drogas é o segundo fator depois das doenças psiquiátricas, como ansiedade e depressão.
Segundo ele, essa é a causa de morte mais facilmente evitável entre todas as doenças. “Enquanto doenças infecciosas, cardiovasculares e tumores precisam de grande aporte médico e cirúrgico de alto custo, o impedimento médico do suicídio pode ser atingido com remédios bem mais baratos e somente conversando com o paciente.”
Para Jaber, o fundamental é dar atenção e escutar aquele que pensa no assunto. “O fato de alguém que tenta suicídio ser escutado por cerca de 20 minutos pode impedir que ele tenha o impulso de cometer o ato. Ouvir o suicida salva a vida dele”.
Na clínica onde atende dependentes químicos, Jaber informou que pelo menos 20% dos pacientes internados atentaram contra a própria vida. “Quanto mais as pessoas falarem sobre o suicídio, menos suicídios ocorrerão” disse.
O que é o Setembro Amarelo?
Setembro é o mês de prevenção ao suicídio. Desde 2014, o Centro de Valorização da Vida (CVV), em parceria com o Conselho Federal de Medicina e a Associação Brasileira de Psiquiatria, promovem a campanha Setembro Amarelo para conscientizar a população da importância de falar sobre o tema.
O mês foi escolhido para estender as ações do Dia Mundial da Prevenção ao Suicídio, 10 de setembro. Neste período, as três entidades incentivam e apoiam escolas, governos, empresas e ONGs a aderirem ao movimento. Por isso, é comum ver pontos turísticos, monumentos históricos e fachadas de prédios com iluminação amarela. Da mesma forma, é possível encontrar a fita de mesma cor estampando cartazes, outdoors e campanhas online. Passeatas e caminhadas também são frequentes em cidades brasileiras.
Segundo Elaine Macedo, voluntária do CVV, a ideia do Setembro Amarelo é reforçar um posicionamento defendido durante todo o ano pela entidade. “Precisamos acabar com o tabu de que falar sobre o suicídio incentiva a prática. A prevenção é um processo educativo. Quanto mais falamos sobre isso, de forma apropriada, mais clarificamos, explicamos e, portanto, prevenimos”, diz.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, nove em cada dez casos de suicídio poderiam ser prevenidos. A faixa etária que mais preocupa as autoridades é entre os 15 e 35 anos. Por isso, Elaine defende que o tema seja tratado desde a infância.
“Não é algo que ocorre da noite para o dia. O jovem pode levar anos amadurecendo a ideia até que o impulso aconteça. A discussão nas escolas, com naturalidade e seriedade, gera uma adolescência mais saudável”, explica a voluntária, que defende a importância de incentivar a Educação emocional. “Precisamos ensinar as crianças e adolescentes a redimensionar seus problemas, a saber enfrentar as intempéries da vida, a falar sobre suas emoções”, diz.
*Contém informações de Portal Metrópoles, CVV e Nova Escola.