15 de Maio de 2019: A Potência e Força do Movimento Estudantil

*por Márcia Ferreira de Santana

O cenário político atual no Brasil tem se mostrado hostil à liberdade de pensamento, com ataques sucessivos aos estabelecimentos de ensino público, seja em referência ao corpo discente, seja aos docentes. Esta forma de afronta, tem provocado nesses grupos uma indignação que foi extravasando pelos muros e portões dos campus acadêmicos e contagiando a sociedade. Essa exuberância de alteridades que este lugar possui foi se apropriando de uma horda de resistência. Esse poder desmedido da qual se utilizam os governantes para enxovalhar o lugar de produção de saber e pensamento crítico atingiu seu ápice com a notícia de cortes financeiros no orçamento da educação. E evocando o pensador Michel Foucault, “onde há poder, há resistência”.

As instituições públicas de ensino sejam elas em que grau for, do fundamental ao superior, são exemplos típicos de relação de poder, de submissão a técnicas e padrões, e têm vivido seu cotidiano com absurdas precariedades, desde falta d’água até os atrasos repetidos na remuneração de trabalhadores, bolsas estudantis e fornecedores; a pauta reivindicatória consta de uma lista sem fim.

O movimento que eclodiu neste 15 de maio é uma busca por mudanças no sistema educacional, é uma multidão reagente, é um grito uníssono pela educação que agoniza, pelo descaso e violência no seio do lugar transformador de existências e amplificador de críticas. O que se viu nesse dia, foram ruas inundadas de pessoas dispostas a – mesmo debaixo de chuva e empunhando cartazes, num colorido político de respostas aos insistente desprezo e abandono que vem sofrendo a educação brasileira – a tornar explícito para o mundo o desprezo dos representantes do Estado pelos direitos constitucionais, pela educação pública e a constante desvalorização dos profissionais que nesses lugares labutam.

Essa causa nobre expandiu-se para todo o país, foram ruas abarrotadas com canções de coragem, com pessoas de todas as idades, de todos os cantos, compondo uma verdadeira tsunami.

O que vemos hoje na educação do Brasil, é um grave desmonte, infraestrutura de má qualidade e sem manutenção, desvalorização dos profissionais de educação, um estado caótico, faltas de toda ordem, é um colapso educacional. É um projeto de poder que quer empobrecer e constranger vidas, sucateando o lugar da poeésis numa ortopedia sufocante querendo transformar árvores gigantes em tímidos bonsais num emudecimento dos corpos.

Os movimentos estudantis têm buscado melhoria na infraestrutura escolar, valorização dos professores, qualidade no ensino, aplicação nas pesquisas, fortalecimento das cotas, respeito pela diversidade e garantias da mantença da educação pública. A possibilidade de privatização da educação pública descaracterizando-a, desmantelando-a para cedê-la à iniciativa privada, num processo de mercantilização do público, também foi um dos motivos para a realização dos movimentos.

O panorama vem se mostrando assustador porque pessoas conscientes assustam o poder estabelecido. Será que a educação e seus lugares de livre saber e pensar estão colocando o poder em risco? Será que a sociedade estaria ameaçada no ponto de vista de quem detém o poder?

Neste 15 de maio de 2019, os estudantes e a multidão que sonham com um país forte em sua diversidade e cultura, que acreditam numa sociedade mais justa que privilegie o conhecimento universalizante e público, foram as ruas para protestar sim e mostrar que sabem mais do que calcular uma tabuada simples ou fazer combinações de tabela periódica. Também sabem lutar, sabem reivindicar, sabem denunciar que os cortes que esse governo pretende fazer na educação são inconstitucionais e são mais um duro e forte golpe do capital no bem mais precioso que a população possui que é a educação pública de qualidade, inclusiva e crítica.

*Márcia Ferreira de Santana é vice-presidenta do Sinfa-RJ

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