Brasil, entre o oficial e o oficial

POR RUI DAHER

Estamos sempre entre a realidade do governo e aquela dos interesses privados concessionados por ele

Para saber das coisas na Federação de Corporações você pode, por força de trabalho ou prazer, realizar Andanças Capitais, ou acessar folhas, telas e emissoras de ondas magnéticas cotidianas, que no presente se dividem entre oficial e oficial.

Uma, produz o governo de plantão; outra, produzem os interesses privados concessionados pelo governo e receptores de verbas publicitárias, em parte públicas.

Nem sempre os leitores estarão servidos por fatos reais. Quem, como eu, precisa opinar e dialogar na mídia deve ouvir as duas. Hoje em dia, com forças absolutamente desmedidas, traçam fogos cruzados em torno de projetos políticos inexplícitos ou equivocados.

De transmissão radiofônica obrigatória, a longeva Voz do Brasil, na parte reservada ao Poder Executivo, informa-nos de muitas realizações. Dali em diante, a EBC Serviçosé bastante equânime. Dá voz livre aos Poderes Judiciário e Legislativo.

Esta semana, por exemplo, soube que o governo investirá 186 bilhões de reais em novas linhas de transmissão de energia através das pequenas centrais hidrelétricas (PCH), movidas por fontes renováveis, 471 delas já em funcionamento.

Entrevistado em Ipameri, Goiás, o supervisor de uma agroindústria média (não sei se usava camiseta vermelha com estrela dourada no peito), disse plantarem soja e cana-de-açúcar até chegar aos etanol e farelo.

Há 20 anos, iniciaram projeto para gerar eletricidade própria. Hoje, sua PCH produz três megawatts-hora utilizando o bagaço da cana para abastecer as caldeiras. A parte excedente é comercializada. Se o investimento do governo vingar até capacidade de 1.500 megawatts, poderá abastecer 3,5 milhões de habitantes com energia.

Na mesma audição soube que o “movimento de passageiros em aeroportos bateu recordes nos seis primeiros meses deste ano. Mais de 107 milhões de embarques e desembarques entre os meses de janeiro e julho. Melhor resultado da série histórica”.

Eita pobrada consumista, esta! Quando entenderão ser hora de voltar aos ônibus encarquilhados e tortos paus-de-arara? Como vamos aumentar a poupança interna e a produtividade do trabalho, se ficam por aí a passear?

A não ser mentira bolivariana, pois veio da Voz, outra ótima notícia. Foi inaugurada a Escola Nacional de Gestão Agropecuária para servidores do ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e órgãos a ele vinculados.

Mais uma: o setor portuário movimentou 479 milhões de toneladas no primeiro semestre de 2015, um crescimento de 3% sobre o mesmo período do ano passado. Na crise? Impossível. Resta a hipótese de fruto das toneladas de camisas da seleção brasileira, bandeironas, cartazes e aparelhos de sons, cabotados às manifestações populares.

E assim chegamos ao segundo oficialismo, o opositor. A que senhor ele serve?

Escudado em interpretação oportunista da liberdade de imprensa, passível de macular a vida de quem quiser antes das provas, suas emanações chegam à sociedade pelos lábios de William e Renata, no Jornal Nacional, da TV Globo, e nas capas de Veja, para citar apenas os mais influentes.

Pergunto: a partir dos respectivos níveis de audiência, quem levará maior persuasão à sociedade?

Sabia bem disso Joseph Goebbels (1897-1945), ministro da Propaganda do Reich, que durante 12 anos fez a cabeça de um povo através de divulgação político-ideológica, não importava se veraz ou mentirosa.

O que vimos e ouvimos no 16 de agosto veio daí? Certamente, não. Apoio ao integralismo, escalada comunista, monarquia, Bolívar, Bolsonaro para presidente, enforcamento de Dilma, refletem apenas livros em desuso e cabeças obtusas.

Fosse essa a toada do oficialismo opositor, logo estaríamos queimando quadros de Diego Rivera, poemas de Pablo Neruda, e a Polícia Federal estaria à caça de Graciliano Ramos para prender sua ossada. Esse foi somente o lado hilário do “movimento de massas”.

Goebbels pensava a comunicação de forma mais elaborada e efetiva: escolhia um alvo e o responsabilizava pela crise que atrapalhava a vida das pessoas.

No mesmo dia em que a Voz me fez saber de quatro fatos positivos que servem ao meu tema nesta CartaCapital, o oficialismo 2 preferiu destacar conselho de renúncia da presidente, dado por ex-presidente autor de estelionato eleitoral de igual tamanho.

Não minimizo a crise nem os equívocos de Dilma 1, mas defendo o que escreveu Jânio de Freitas, em sua coluna de 16/08, na Folha de São Paulo: “Isso é democracia. Não é, não. Um dos componentes essenciais e inflexíveis da democracia é o respeito às regras que a instituem. As regras existem no Brasil, precisas e claras na Constituição, mas o respeito é negado onde e por quem mais deveria fortalecê-las. O que está sob ataque não é mandato algum, são as regras da democracia e, portanto, a própria democracia que se vinha construindo”.

Ouçam, vez ou outra, o que fala a Voz do Brasil. Oficial por oficial, pode ser que as duas mintam.

Fonte: Carta Capital

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