Apesar do encontro entre a presidente Dilma Rousseff e o vice Michel Temer ter sido para demonstrar normalidade institucional na relação entre os dois, a reunião explicitou o afastamento e a desconfiança mútua que tem se aprofundado nos últimos meses, principalmente depois da carta em tom de desabafo de Temer a Dilma no fim do ano passado.
Isso fica evidente ao fato de não ter sido tratado nenhum ponto fundamental da agenda política dos dois interlocutores como a abertura do processo de impeachment no Congresso Nacional, que preocupa Dilma, e a disputa para o comando do PMDB, agenda prioritária do vice-presidente.
No encontro, se tratou de temas sobre os quais não há divergência entre os dois, como o aprofundamento da crise financeira internacional, com reflexos para o Brasil, e a necessidade de o governo estar disposto a ouvir mais a sociedade, especificamente os empresários, como chegou a sugerir Temer.
“Tenho conversado muito com os empresários e eles querem mais falar do que ouvir”, disse Temer para Dilma.
Nas palavras de um interlocutor do vice-presidente, está mais atual do que nunca o texto final da carta enviada por Temer quando ele explicitou que Dilma nunca confiou e não confia nele e no PMDB.
O fato da conversa só ter sido reservada pelos dois por 15 minutos e o restante do encontro ter sido acompanhado pelos ministros Jaques Wagner (Casa Civil) e Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) mostra que nunca a relação entre os dois esteve mais protocolar do que agora.
A própria dificuldade para se agendar um encontro em conversa prévia entre Wagner e Temer é mais um indicador desse distanciamento.
Auxiliares diretos da presidente Dilma Rousseff ressaltam que o recuo de Michel Temer só aconteceu porque o impeachment perdeu força depois que o Supremo Tribunal Federal decidiu barrar o rito que estava em tramitação na Câmara dos Deputados.
“Mas se o impeachment voltar a ganhar força, Temer será o primeiro a se afastar do governo novamente. Neste momento ele está interessado mais em sua reeleição para o comando do PMDB, por isso, abaixou as armas”, disse ao Blog um auxiliar próximo de Dilma.
Fonte: G1