Em entrevista à Folha de S. Paulo, Stiglitz também criticou cortes em programas sociais
Em entrevista à Folha de S. Paulo publicada nesta terça-feira (3), o Prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz afirmou que o ajuste fiscal brasileiro poderá agravar o quadro de recessão vivido pelo país. “Essas políticas irão, muito provavelmente, reduzir ainda mais o crescimento econômico. E o que mais me preocupa é que uma recessão afeta não só o resultado hoje, mas tende a levar a um crescimento fraco no futuro, porque você não está investindo no capital humano, em novas tecnologias”, explicou o norte-americano.
Para Stiglitz, a solução mais interessante para por combater a inflação para, assim, viabilizar uma taxa de juros menor e permitir um crescimento mais rápido. “Além disso, se o governo precisar tomar dinheiro emprestado, o peso da dívida não será tão grande”, disse o especialista à reportagem assinada por Giuliana Vallone. Ainda de acordo com o Prêmio Nobel, o fato de os juros brasileiros serem tão altos demonstram que “o setor financeiro não está funcionando como deveria”. E o resultado, ele lembra, é o crescimento da dívida de forma acelerada.
Questionado pela Folha sobre a correlação da taxa de juros com a inflação, Stiglitz opinou que existe algo de “especial” no processo inflacionário do Brasil. “E isso pode requerer uma cooperação maior entre trabalhadores e empresas, alguns acordos de congelamento de preços e salários, para quebrar o ciclo inflacionário. O Brasil está pagando por um preço muito alto por isso, um ciclo bastante incomum entre os países emergentes”, esclareceu.
O economista ainda classificou como preocupante o corte de programas sociais para viabilizar o ajuste. “Uma das conquistas do Brasil, de que se fala em todo o mundo, é o sucesso na redução da pobreza e da desigualdade nos últimos 20 anos. Se você corta programas sociais, está prejudicando isso”, enfatizou.
Joseph Stiglitz nasceu nos Estados Unidos em 1943, se formou em economia pela Faculdade Amherst e obteve um PhD no Instituto de Tecnologia de Massachusetts – o MIT. Entre os anos de 1997 e 2000 atuou como economista-chefe do Banco Mundial e, em 2001, recebeu o Prêmio Nobel de Economia. Atualmente, é professor da Universidade de Columbia, em Nova York. O economista veio ao Brasil para participar, nesta quarta-feira (4), do ciclo de conferências Fronteiras do Pensamento, em São Paulo.
Fonte: Jornal do Brasil