Um breve comparativo das principais mudanças com a reforma trabalhista
Após longos debates, manifestações contrárias e toda mobilização dos trabalhadores, entidades sindicais e movimentos sociais, o Congresso Nacional aprovou no Senado a Reforma Trabalhista. Esta reforma, que foi condenada pela Organização Internacional do Trabalho e por diversos especialistas em direito do trabalho, afeta significativamente as relações de trabalho e as relações econômicas no Brasil.
O discurso da “modernização invocado pela reforma age, na prática, como uma volta ao passado
Direitos consolidados como férias, salário mínimo, leis trabalhistas e todo um sistema de proteção do trabalhador, não deixarão de existir, mas serão flexibilizados. Um dos aspectos ambíguos e perigosos para o trabalhador, a flexibilização de diversos pontos das relações trabalhistas, afetará diretamente o lado mais fraco nessa relação de poder. Num cenário econômico de 14 milhões de desempregados, sabemos que os trabalhadores se sentirão coagidos a aceitar os termos impostos pelos patrões. O relaxamento do sistema de proteção ao trabalhador significa, dentro de um cenário global do capitalismo, mais um passo rumo à desregulação estatal das relações de trabalho. A ideia sagrada de “livre mercado” aplicada pelo neoliberalismo ganha mais força ainda no Brasil com a reforma trabalhista. O discurso oficial e midiático é o da modernização, mas na prática esta reforma representa mais um país com grande mão de obra e um grande mercado, que se ajusta aos novos caminhos de um capitalismo financeiro que para sobreviver precisa precarizar mais ainda as relações de trabalho.
Alguns pontos abordados pela reforma são uma tentativa de destruição da força coletiva dos trabalhadores e dos sindicatos. O fim dos limites à duração do trabalho representa um retorno ao modelo de trabalho da Revolução Industrial. A mudança que permite a gestantes e lactantes trabalhar em ambiente insalubre mostra a clara despreocupação com a saúde das trabalhadoras. O ataque ao direito do salário mínimo também atesta o caráter inconstitucional da medida aprovada ontem pelo Senado.
A tentativa de desconfiguração dos elementos da relação de trabalho é evidente neste processo que envolve a reforma trabalhista e a terceirização.
Veja a seguir um panorama comparativo das mudanças trazidas pela reforma:
Negociação
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Regra atual
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Nova regra
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Convenções e acordos coletivos podem estabelecer condições de trabalho diferentes das previstas na legislação apenas se conferirem ao trabalhador um patamar superior ao que estiver previsto na lei.
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Convenções e acordos coletivos poderão prevalecer sobre a legislação. Assim, os sindicatos e as empresas podem negociar condições de trabalho diferentes das previstas em lei, mas não necessariamente num patamar melhor para os trabalhadores.
Em negociações sobre redução de salários ou de jornada, deverá haver cláusula prevendo a proteção dos empregados contra demissão durante o prazo de vigência do acordo. Esses acordos não precisarão prever contrapartidas para um item negociado. Acordos individualizados de livre negociação para empregados com instrução de nível superior e salário mensal igual ou superior a duas vezes o limite máximo dos benefícios do INSS (R$ 5.531,31) prevalecerão sobre o coletivo.
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Prazo de validade das normas coletivas
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Regra atual
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Nova regra
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As cláusulas dos acordos e convenções coletivas de trabalho integram os contratos individuais de trabalho e só podem ser modificados ou suprimidos por novas negociações coletivas. Passado o período de vigência, permanecem valendo até que sejam feitos novos acordos ou convenções coletivas.
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O que for negociado não precisará ser incorporado ao contrato de trabalho. Os sindicatos e as empresas poderão dispor livremente sobre os prazos de validade dos acordos e convenções coletivas, bem como sobre a manutenção ou não dos direitos ali previstos quando expirados os períodos de vigência. E, em caso de expiração da validade, novas negociações terão de ser feitas.
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Representação
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Regra atual | Nova regra |
A Constituição assegura a eleição de um representante dos trabalhadores nas empresas com mais de 200 empregados, mas não há regulamentação sobre isso. Esse delegado sindical tem todos os direitos de um trabalhador comum e estabilidade de dois anos.
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Os trabalhadores poderão escolher 3 funcionários que os representarão em empresas com no mínimo 200 funcionários na negociação com os patrões. Os representantes não precisam ser sindicalizados. Os sindicatos continuarão atuando apenas nos acordos e nas convenções coletivas.
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Remuneração
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Regra atual | Nova regra |
A remuneração por produtividade não pode ser inferior à diária correspondente ao piso da categoria ou salário mínimo. Comissões, gratificações, percentagens, gorjetas e prêmios integram os salários.
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O pagamento do piso ou salário mínimo não será obrigatório na remuneração por produção. Além disso, trabalhadores e empresas poderão negociar todas as formas de remuneração, que não precisam fazer parte do salário.
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Plano de cargos e salários
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Regra atual | Nova regra |
O plano de cargos e salários precisa ser homologado no Ministério do Trabalho e constar do contrato de trabalho.
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O plano de carreira poderá ser negociado entre patrões e trabalhadores sem necessidade de homologação nem registro em contrato, podendo ser mudado constantemente.
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Contribuição sindical
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Regra atual | Nova regra |
A contribuição é obrigatória. O pagamento é feito uma vez ao ano, por meio do desconto equivalente a um dia de salário do trabalhador.
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A contribuição sindical será opcional.
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Terceirização
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Regra atual | Nova regra |
O presidente Michel Temer sancionou o projeto de lei que permite a terceirização para atividades-fim.
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Haverá uma quarentena de 18 meses que impede que a empresa demita o trabalhador efetivo para recontratá-lo como terceirizado. O texto prevê ainda que o terceirizado deverá ter as mesmas condições de trabalho dos efetivos, como atendimento em ambulatório, alimentação, segurança, transporte, capacitação e qualidade de equipamentos.
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Gravidez
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Regra atual | Nova regra |
Mulheres grávidas ou lactantes estão proibidas de trabalhar em lugares com condições insalubres. Não há limite de tempo para avisar a empresa sobre a gravidez.
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É permitido o trabalho de mulheres grávidas em ambientes considerados insalubres, desde que a empresa apresente atestado médico que garanta que não há risco ao bebê nem à mãe. Mulheres demitidas têm até 30 dias para informar a empresa sobre a gravidez.
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Ações na Justiça
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Regra atual | Nova regra |
O trabalhador pode faltar a até três audiências judiciais. Os honorários referentes a perícias são pagos pela União. Além disso, quem entra com ação não tem nenhum custo.
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O trabalhador será obrigado a comparecer às audiências na Justiça do Trabalho e, caso perca a ação, arcar com as custas do processo. Para os chamados honorários de sucumbência, devidos aos advogados da parte vencedora, quem perder a causa terá de pagar entre 5% e 15% do valor da sentença.
O trabalhador que tiver acesso à Justiça gratuita também estará sujeito ao pagamento de honorários de perícias se tiver obtido créditos em outros processos capazes de suportar a despesa. Caso contrário, a União arcará com os custos. Da mesma forma, terá de pagar os honorários da parte vencedora em caso de perda da ação. Além disso, o advogado terá que definir exatamente o que ele está pedindo, ou seja, o valor da causa na ação. Haverá ainda punições para quem agir com má-fé, com multa de 1% a 10% da causa, além de indenização para a parte contrária. É considerada de má-fé a pessoa que alterar a verdade dos fatos, usar o processo para objetivo ilegal, gerar resistência injustificada ao andamento do processo, entre outros. Caso o empregado assine a rescisão contratual, fica impedido de questioná-la posteriormente na Justiça trabalhista. Além disso, fica limitado a 8 anos o prazo para andamento das ações. Se até lá a ação não tiver sido julgada ou concluída, o processo será extinto.
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Férias
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Regra atual | Nova regra |
As férias de 30 dias podem ser fracionadas em até dois períodos, sendo que um deles não pode ser inferior a 10 dias. Há possibilidade de 1/3 do período ser pago em forma de abono.
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As férias poderão ser fracionadas em até três períodos, mediante negociação, contanto que um dos períodos seja de pelo menos 15 dias corridos.
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Jornada
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Regra atual | Nova regra |
A jornada é limitada a 8 horas diárias, 44 horas semanais e 220 horas mensais, podendo haver até 2 horas extras por dia.
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Jornada diária poderá ser de 12 horas com 36 horas de descanso, respeitando o limite de 44 horas semanais (ou 48 horas, com as horas extras) e 220 horas mensais.
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Tempo na empresa
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Regra atual | Nova regra |
A CLT considera serviço efetivo o período em que o empregado está à disposição do empregador, aguardando ou executando ordens.
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Não são consideradas dentro da jornada de trabalho as atividades no âmbito da empresa como descanso, estudo, alimentação, interação entre colegas, higiene pessoal e troca de uniforme.
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Descanso
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Regra atual | Nova regra |
O trabalhador que exerce a jornada padrão de 8 horas diárias tem direito a no mínimo uma hora e a no máximo duas horas de intervalo para repouso ou alimentação.
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O intervalo dentro da jornada de trabalho poderá ser negociado, desde que tenha pelo menos 30 minutos. Além disso, se o empregador não conceder intervalo mínimo para almoço ou concedê-lo parcialmente, a indenização será de 50% do valor da hora normal de trabalho apenas sobre o tempo não concedido em vez de todo o tempo de intervalo devido.
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Transporte
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Regra atual | Nova regra |
O tempo de deslocamento no transporte oferecido pela empresa para ir e vir do trabalho, cuja localidade é de difícil acesso ou não servida de transporte público, é contabilizado como jornada de trabalho.
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O tempo despendido até o local de trabalho e o retorno, por qualquer meio de transporte, não será computado na jornada de trabalho.
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Trabalho intermitente (por período)
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Regra atual | Nova regra |
A legislação atual não contempla essa modalidade de trabalho.
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O trabalhador poderá ser pago por período trabalhado, recebendo pelas horas ou diária. Ele terá direito a férias, FGTS, previdência e 13º salário proporcionais. No contrato deverá estar estabelecido o valor da hora de trabalho, que não pode ser inferior ao valor do salário mínimo por hora ou à remuneração dos demais empregados que exerçam a mesma função.
O empregado deverá ser convocado com, no mínimo, três dias corridos de antecedência. No período de inatividade, pode prestar serviços a outros contratantes.
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Trabalho remoto (home office)
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Regra atual | Nova regra |
A legislação não contempla essa modalidade de trabalho.
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Tudo o que o trabalhador usar em casa será formalizado com o patrão via contrato, como equipamentos e gastos com energia e internet, e o controle do trabalho será feito por tarefa.
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Trabalho parcial | |
Regra atual | Nova regra |
A CLT prevê jornada máxima de 25 horas por semana, sendo proibidas as horas extras. O trabalhador tem direito a férias proporcionais de no máximo 18 dias e não pode vender dias de férias.
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A duração pode ser de até 30 horas semanais, sem possibilidade de horas extras semanais, ou de 26 horas semanais ou menos, com até 6 horas extras, pagas com acréscimo de 50%. Um terço do período de férias pode ser pago em dinheiro.
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Demissão
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Regra atual | Nova regra |
Quando o trabalhador pede demissão ou é demitido por justa causa, ele não tem direito à multa de 40% sobre o saldo do FGTS nem à retirada do fundo. Em relação ao aviso prévio, a empresa pode avisar o trabalhador sobre a demissão com 30 dias de antecedência ou pagar o salário referente ao mês sem que o funcionário precise trabalhar.
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O contrato de trabalho poderá ser extinto de comum acordo, com pagamento de metade do aviso prévio e metade da multa de 40% sobre o saldo do FGTS. O empregado poderá ainda movimentar até 80% do valor depositado pela empresa na conta do FGTS, mas não terá direito ao seguro-desemprego.
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Danos morais
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Regra atual | Nova regra |
Os juízes estipulam o valor em ações envolvendo danos morais.
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A proposta impõe limitações ao valor a ser pleiteado pelo trabalhador, estabelecendo um teto para alguns pedidos de indenização. Ofensas graves cometidas por empregadores devem ser de no máximo 50 vezes o último salário contratual do ofendido.
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Banco de horas
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Regra atual | Nova regra |
O excesso de horas em um dia de trabalho pode ser compensado em outro dia, desde que não exceda, no período máximo de um ano, à soma das jornadas semanais de trabalho previstas. Há também um limite de 10 horas diárias.
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O banco de horas pode ser pactuado por acordo individual escrito, desde que a compensação se realize no mesmo mês. |
Rescisão contratual
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Regra atual | Nova regra |
A homologação da rescisão contratual deve ser feita em sindicatos.
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A homologação da rescisão do contrato de trabalho pode ser feita na empresa, na presença dos advogados do empregador e do funcionário – que pode ter assistência do sindicato.
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Multa
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Regra atual | Nova regra |
A empresa está sujeita a multa de um salário mínimo regional, por empregado não registrado, acrescido do mesmo valor em cada reincidência.
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A multa para empregador que mantém empregado não registrado é de R$ 3 mil por empregado, que cai para R$ 800 para microempresas ou empresa de pequeno porte.
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