Por Márcia Ferreira da Silva*
Ultimamente temos sidos avassalados com as notícias da reforma da previdência, que trocando em miúdos são as mudanças políticas unilaterais e dolorosas nas regras da aposentação.
Toda vez que pensamos em reformar algo, logo nos vem à percepção de que de algum jeito aquilo a que queremos reformar vai ficar melhor, mais bonito, mas funcional não reformamos nossa casa para que ela fique disfuncional ou menos atraente. Reformamos para que ela saia da superfície e vá de encontro ao ideal. Mas porque estamos com a sensação de que a reforma da previdência deixará nosso futuro com a cara de imóvel demolido?
No final do século XIX, mas precisamente em 1889 na Alemanha estabeleceu-se um sistema nacional que assegurava o pagamento de um benefício aos trabalhadores do comércio, indústria e agricultura que tivessem mais de 70 anos com a finalidade de ter um final de vida com dignidade. Ao criar este benefício, que atendia as reivindicações dos trabalhadores, pretendia-se combater as ideologias socialistas que então se despontavam com força no meio trabalhista.
No Brasil, foi em 1923 que surgiu a aposentadoria, e essa nomenclatura assim se consagrou advinda de um desejo, de um sonho do trabalhador de voltar para os seus aposentos, primeiramente os ferroviários, com a criação da Caixa de Aposentadoria e Pensões para os empregados das Empresas Ferroviária também extensiva aos familiares e posteriormente por intermédio de lutas políticas, outras categorias foram paulatinamente sendo beneficiadas. Os proventos era a honra cristalizada daquele que cumpriu a jornada laboral e podia agora voltar aos aposentos e se ocupar da cotidianidade sem o peso do cartão de ponto.
A previdência social como se denominaram as aposentadorias e pensões, era a tranquilidade confiante e sabida do sonho acalentado que amenizava o tempo de serviço vendido com suor diário aos senhores da produção. Com o passar do tempo esse quinhão retirado mensalmente do salário do trabalhador passou a servir a várias outras instituições criadas que a título de investimento se escoaram por algum outro sonho que não era mais o do trabalhador. Deste modo, a previdência esta deusa do futuro, cada vez mais cortejada, passou por mais três reformas, em 1998, 2003 e 2005 e a cada emenda constitucional sob o manto de reforma, o trabalhador era apanhado numa esparrela política, sem debates, sem discussões coletivizadas, sem voz, sem voto. Assim, o trabalhador vai assistindo os direitos sendo delapidados e se aproximando da linha do horizonte, e cada ano trabalhado pensando em alcança-la ela se move mais rapidamente ainda perdendo-se ofegante, numa trajetória insana e esfumaçada com ares de utopia.
A nova reforma da previdência, não é vintage, não emerge para prosperar, ela é a própria caixa de pandora que se escancara a céu aberto.
*Márcia Ferreira da Silva é vice-presidente do SINFA-RJ