Pedido de afastamento de relator deve adiar julgamento das contas do governo

Por Luciana Lima

Governo não descarta recorrer para garantir saneamento dos vícios do processo. Governo acusa ministro de prejulgamento

A Advocacia-Geral da União (AGU) acusou o ministro Augusto Nardes, relator das contas do governo federal no Tribunal de Contas da União (TCU), de antecipar sua opinião e voto pela rejeição das contas do governo em 2014, e pediu seu afastamento do caso.

A acusação, na prática, deverá adiar o julgamento das contas, previsto para a próxima quarta-feira (7), embora o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, negue que esta seja a intenção. Segundo ele, o questionamento tem por objetivo “sanear” um vício do processo. “O objetivo não é o adiamento, o objetivo é que a lei seja cumprida”.

O pedido de afastamento terá de ser avaliado antes do julgamento. Caso a conduta de Nardes seja considerada ilegal pelo próprio TCU, será preciso a indicação de um novo relator para o processo.

Em entrevista coletiva, Cardozo ainda explicou ainda que, caso o ministro não seja afastado da relatoria, o governo está disposto recorrer a outras instâncias para garantir a lisura do processo.

Além de Cardozo, os ministros da AGU, Luís Inácio Adams, e do Planejamento, Nelson Barbosa, também participaram da coletiva.

Os ministros listaram diversas ocasiões em que Nardes emitiu sua opinião e defendeu que estas atitudes ferem a Lei Orgânica da Magistratura, que faz parte do regimento interno do TCU. De acordo com Adams, a AGU reuniu mais de duas mil páginas com opiniões de Nardes sobre o processo ainda em andamento, inclusive com recomendações aos demais ministros pela rejeição.

“Essa prática, que é vedada, foi reiterada”, disse Adams. “É vedado ao magistrado manifestar por qualquer meio de comunicação opinião sobre processo pendente de julgamento seu ou de outrem”, citou o advogado-geral.

O ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, defendeu a prestação de contas do governo. Segundo ele, o TCU adotou critérios diferentes do que vinham sendo utilizados em relação aos prazos para pagamento dos empréstimos nos bancos públicos.

Relator

Já o ministro Augusto Nardes, em nota divulgada na noite de domingo, negou ter antecipado opinião acerca da apreciação das contas e que apenas divulgou na última quinta-feira (1º), a minuta de relatório e do parecer prévio aos demais ministros.

De acordo com Nardes, a divulgação foi feita para atender o Regimento Interno do TCU, que exige que a distribuição dessas peças aos demais ministros, com até cinco dias de antecedência da sessão de julgamento.

Oposição

O presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), considerou a postura do governo como “truculenta”, com o objetivo de desqualificar a TCU.

O governo age como um time que, vendo que está perdendo de goleada a partida, pede para mudar o juiz. Chega a ser patética essa tentativa extrema de buscar desqualificar o Tribunal de Contas da União e os pareceres técnicos elaborados com rigor e isenção”, disse o senador em nota.

Na verdade, essa ação truculenta e desrespeitosa do governo através do titular da AGU só consegue demonstrar de forma definitiva que faltam argumentos sérios para responder aos questionamentos feitos pelo TCU, e escancaram o enorme receio de uma histórica derrota quando do julgamento das contas presidenciais”, destacou.

Felizmente, e ao contrário do que parece supor o Advogado Geral, o TCU não é órgão subordinado ao Poder Executivo e cumprirá o seu dever de julgar com independência e baseado em argumentos técnicos. É hora de mostrarmos definitivamente que no Brasil a lei deve ser cumprida por todos, em especial por quem deveria dar o exemplo: a presidente da República”, disse o senador.

Fonte: Último Segundo

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